quarta-feira, agosto 29, 2012

João António Gonçalves de Figueiredo


Postais e foto da coleção particular de Carlos Pereira. "Clique" para ampliar.

Para muitos, não passa de uma referência numa discreta estátua que ornamenta o Jardim. Os que têm feito o favor de nos acompanhar, já leram várias vezes o nome dessa personagem caracterizada pelas longas barbas (ver aqui e aqui). João António Gonçalves de Figueiredo, nascido no Banho (Termas de São Pedro do Sul) em 29 de Agosto de 1861 (1), foi proclamado "cidadão honorário de Vouzela" em 1943. Morreu em 31 de Agosto de 1953 com 92 anos.

Era sobrinho do barão da Costeira (ver a última imagem deste post) e, talvez por sua influência, fez parte do Partido Regenerador pelo qual foi nomeado administrador do concelho de Oliveira de Frades. Em 1885 integrou o grupo fundador da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vouzela, tendo sido "1º patrão e sub-comandante" do seu corpo ativo, para além de presidente da direção e da assembleia. Segundo Lopes da Costa, a sede desta instituição inaugurada em 26 de Fevereiro de 1911, foi edificada em terrenos que, em grande parte, foram por ele oferecidos. Como forma de agradecimento, a corporação decidiu dar o seu nome ao primeiro pronto socorro.

Enquanto presidente da então Junta da Paróquia de Vouzela, seu nome ficou ligado ao alargamento do "ensino primário" no concelho. Esse trabalho fez com que, em 26 de Abril de 1892, tivesse sido louvado pelo Ministro dos Negócios do Reino e agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo (as insígnias foram confiadas à Associação dos Bombeiros de Vouzela). Ainda nesta área, avançou, em 1928, com a proposta (não concretizada) de construção de uma escola primária "modelo" no alto de Sampaio, para o que estava disposto a ceder terreno, dinheiro (dois mil escudos) e o mobiliário necessário, impondo como única condição que se chamasse João Correia de Oliveira. Também ficou ligado à criação da escola de Fataunços.

Quando, em 1895, foi eleito secretário da Mesa da Santa Casa da Misericórdia, desempenhou papel de relevo na transferência do "Hospital Velho" para a Casa da Cavalaria, onde também foi instalado um asilo. Anos mais tarde administrou esta instituição.

Já após a sua reforma (foi inspetor de Finanças) e, numa altura extremamente difícil da vida local, colaborou na angariação de fundos para o edifício do tribunal. Lopes da Costa refere as suas influências na classificação da Igreja Matriz como monumento nacional e na promulgação do diploma legal que classificou Vouzela como estância de Turismo (Decreto nº 16432, de 28 de Janeiro de 1929). Presidiu à Comissão de Iniciativa e Turismo, tendo ficado ligado a todos os trabalhos de melhoramento no Monte Castelo, nomeadamente à construção da estrada e à vinda do arquiteto Raúl Lino, convidado a dar parecer sobre as obras e que acabou por projetar o fontenário (posteriormente executado sob a responsabilidade do mestre Guilherme José Joaquim Cosme).

Na imensa lista de obras a que ficou ligado, consta ainda o reconhecimento pelo trabalho referente "à denominação das ruas de Vouzela" e o alinhamento da Rua Barão da Costeira, feito "por sua conta", entre "a esquina dos Bombeiros e a casa que era de Leopoldina Batata". Facilitou a aquisição do terreno (Chãs), sua propriedade, onde os pioneiros da Associação de Futebol "Os Vouzelenses" construiram o "Parque Desportivo". Por isso mesmo foi nomeado "sócio benemérito". Em 1943, no mesmo ano em que, por doença, se viu obrigado a abandonar a administração do Hospital e Asilo, a câmara proclamou-o "cidadão honorário de Vouzela".

Para muitos, não passa da modesta referência nesta estátua, paga através de subscrição pública. No entanto, João António Gonçalves de Figueiredo foi dos que fizeram e deixaram fazer daquela obra que verdadeiramente interessa: a que serve a população. Pelo menos que lhe preservem a memória, através dum simples restauro do monumento, de modo a que se perceba o ano do nascimento.
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(1)- Os dados biográficos aqui referidos, foram retirados dos arquivos de Lopes da Costa na Biblioteca Municipal .Foi ainda usada informação de Vouzela- a Terra, os Homens e a Alma, Vouzela 2001, Santa Casa da Misericórdia de Vouzela, 1498-2008, Vouzela 2008 e de "Os Vouzelenses", 80 anos- Imagens com histórias", Vouzela, 2010.

4 comentários:

CP disse...

Excelente artigo. Espero que este e outros sejam compilados e editados num livro sobre "Os Grandes Vouzelenses"

CP disse...

Se na data da publicação deste artigo (29 de agosto) se relembra o nascimento de João Figueiredo, hoje (31 de agosto) relembra-se o seu falecimento.

Pirata Número Um disse...

de pleno acordo quanto à excelência deste artigo.
acrescentar que o monumento a João António Gonçalves de Figueiredo é da autoria do Escultor Eduardo Sérgio.
Este, de seu nome completo Eduardo Sérgio Pessoa de Magalhães Figueiredo, é bisneto do homenageado.
Pela página www. pode constatar-se ser o actual 2º Barão da Costeira.

Pirata número 3 disse...

Verifico que Vouzela, há muitos anos já (pois que já vi a estátua assim quando lá fui pela última vez, há muitos, muitos anos), deve estar muito "pobrezinha", pois que faltam várias letras no nome do meu bisavô e não há meio de as reporem. Será que é preciso fazer uma subscrição pública para repor o nome do homenageado, com todas as letras, na sua estátua?

Quanto ao Barão da Costeira, lamento ser desmancha-prazeres ou destruidor de ilusões, mas o que diz o Anuário Nobiliárquico é que:
«Foi ÚNICO Barão da Costeira João António de Figueiredo» - tio do meu bisavô homenageado pela estátua - «que nasceu (também) na vila do Banho (actuais Termas de S. Pedo do Sul) a 9-9-1835 e morreu solteiro e sem filhos em Vouzela a 18-9-1905. Por Decreto de 6-9-1894 (D. Carlos) foi-lhe concedido o título de Barão da Quinta da Costeira, EM SUA VIDA, título mudado logo em 4 de Outubro seguinte para Barão da Costeira, referindo-se a uma quinta, a Quinta da Costeira», quinta essa que foi herdada pelo filho do homenageado pela estátua, Brigadeiro Eugénio de Magalhães Figueiredo, nosso tio-avô, o qual morreu sem descendência. Ora se o título de Barão da Costeira fosse transmissível teria sido primeiro o nosso bisavô, João António Gonçalves de Figueiredo a herdá-lo (e disso nunca se falou na família e alguns disso muito teriam gostado) e depois o nosso tio-avô, não a nossa avó, a herdá-lo e... nunca de tal se ouviu falar. E como o tio-Brigadeiro morreu sem descendência… como é que tal título - dado a João António de Figueiredo EM SUA VIDA - veio a ter continuação em República?